terça-feira, 25 de setembro de 2012

15

Lolla Malcolm se tornou a favor do aborto aos 15 anos. Apesar de ter tido uma infância razoavelmente católica, Lolla nunca entendeu por que o aborto era um assunto majoritariamente discutido por homens. Lolla tinha a opinião simplista (porém coerente) de que uma vez que homem nenhum na história da humanidade tenha sido capaz de gerar um ser humano, esse assunto deveria ser tratado majoritariamente por mulheres. Ok, os dois são responsáveis pelo milagre da vida, mas só as mulheres geram, então, por desempate, a mulher tem a palavra final. A verdade é que Lolla nunca quis fazer um aborto. Durante a juventude tomou bastante cuidado para não engravidar indevidamente. Mas havia aquela sombra do inesperado, a camisinha furada, as aulas de biologia que faziam qualquer útero parecer a mais fértil das terras, Lolla sentia calafrios quando se imaginava cuidando de uma criança. Pensando nas garotas que não tiveram a mesma sorte de conseguir bloquear os malditos espermatozóides, Lolla passou a procurar e seguir sites relacionados ao aborto. Lolla tremia nas bases quando se imaginava engolindo remédios pra úlcera pra matar o feto. Isso ou qualquer outro medicamento perigoso e contrabandeado faziam a idéia de ser mãe parecer menos assustadora. Lolla, que nunca quis estar na pele dessas mulheres, imaginou como seria um mundo ideal em que a opção do aborto não acabasse num açougue, mas em uma sala de cirurgia convencional com todos os cuidados necessários. E que ninguém pudesse julgar o porquê dessa escolha, muito menos homens, aqueles hipócritas que querem ditar o que eles anatomicamente não conhecem. Desde então Lolla se envolveu em discussões bastante intensas sobre o tema e brigou com muita gente. Com o passar do tempo Lolla aprendeu a usar seus argumentos de forma mais adequada e a ouvir com paciência os sensos comuns que jorram por aí quando aborto passa a ser o assunto. Mas Lolla nunca mudou a opinião de ninguém.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

14

Lolla Malcolm certa vez viu pela televisão o padrinho de casamento de seus pais, dando depoimentos sobre uma acusação de envolvimento em um esquema de corrupção. O casamento de seus pais já havia acabado, assim como o mandato do padrinho, que era deputado em um partido de direita. Lolla era acostumada com o sujeito quando pequena, tinha uma certa afeição por ele. Os pais de Lolla freqüentavam a casa do padrinho em festas de ano novo, natal, dia das mães. Lolla não costumava gostar dessas festas, principalmente pelo fato de nunca ter ninguém de sua idade. Seus pais também ficavam muito ocupados discutindo política e Lolla sempre acabava em um quarto com as tias vendo os especiais da TV. Mas mesmo assim, ela achava o padrinho amigável, sorridente. Sempre que Lolla via o nome do padrinho em campanhas políticas, outdoors e horários eleitorais, Lolla lembrava do brinquedo quebra-gelo que o padrinho havia lhe dado em um aniversário. Ela adorava o jogo de quebrar os gelinhos um por um sem que eles caíssem por completo e derrubassem o ursinho.
Lolla nunca entendeu como se dava a relação entre seus pais e o padrinho. Ele era bem vindo sempre que aparecia, conhecia sua avó e pedia benção, morava por perto e havia estudado com o pai de Lolla. Tinha também uma relação muito próxima com a mãe dela, o que deixava Lolla muito confusa. Quando pequena, Lolla via sua mãe como uma líder de opinião e detentora de muita sabedoria política e ela havia ensinado a menina que a direita é um lugar onde pessoas más vivem. As pessoas da direita não querem o bem comum, não pensam nos pobres, nem em ninguém, querem massacrar e perpetuar seu poder nojento. Era o que dizia a mãe de Lolla nos anos 90, mais ou menos na época em que FHC matava todos os petistas (e seres humanos em geral) de raiva. Lolla concordava com a mãe. Aquelas pessoas realmente eram más. O padrinho aparentemente parecia não pertencer a esse grupo de pessoas mesmo que acreditasse e se filiasse a elas. Lolla não entendia. Quando assistiu ao noticiário e viu o padrinho se defendendo anos mais tarde, Lolla lembrou do brinquedo dos gelinhos. Lolla ficava irada quando deixava o ursinho cair.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

13

Lolla Malcolm certa vez pensou que nunca faria sexo. Lolla pensou esse tipo de coisa com apenas 14 anos, quando toda terça-feira tinha aula de educação sexual na escola. Enquanto a professora ensinava a colocar um preservativo em uma banana e explanava sobre a gama de responsabilidades que a relação sexual exige, Lolla sentiu preguiça. Pensar em conversar sobre o assunto era muito cansativo. Lolla imaginava se as pessoas assinavam contratos antes de se deitar umas com as outras, traçando os limites que aquela atividade iria ter. Na sua realidade da época, Lolla não se imaginava tendo esse tipo de conversa com nenhum garoto ao redor. Nenhum deles era capaz de pronunciar a palavra “pênis” sem que ela estivesse inclusa em contexto de piada ruim. Lolla achava a relação dos garotos com seus respectivos órgãos um pouco doentia. Ela não era uma garota tímida, nem tinha padrões morais que a impedissem de avaliar a situação com leveza, mas Lolla se incomodava profundamente quando via um pênis ereto desenhado em sua carteira da escola. Aquilo não a ajudava a se habituar a idéia de um dia ter que interagir com aquele ser cheio de veias e possuidor do líquido da morte: aquele que, uma vez depositado em seu canal vaginal, acabaria com todos os seus sonhos futuros. Lolla olhava com piedade os casais adolescentes que se atracavam no corredor. Ela, pelo menos, não teria que se preocupar em arranjar um lugar adequado, lubrificante eficaz, camisinha segura, anticoncepcional em dia, a dor do hímem e uma série de etceteras. Ela estava livre disso. É fato que, eventualmente, todas essas questões foram superadas. Mas Lolla ainda considera a relevância de seus argumentos da época.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

12

Lolla Malcolm fumou seu primeiro baseado com 13 anos. Ok, hoje Lolla entende que 13 anos talvez tenha sido cedo demais para esse tipo de experiência. Mas isso não causou grandes problemas em sua adolescência porque essa primeira experiência só foi seguida de outra semelhante cerca de 2 anos mais tarde. Ok, Lolla também entende que com 15 anos talvez seja cedo demais para essas experiências, mas Lolla só foi ter contato novamente com a erva 2 anos depois. Ok, Lolla concorda que 17 anos talvez não seja a idade adequada para esse tipo de experiência, ainda mais porque com 17 anos a experiência de Lolla não foi nada agradável. O que a fez retornar com a prática apenas um ano depois, quando entrou na Faculdade. Não assusta que a partir daí, Lolla tenha se tornado mais freqüente em seus momentos de plenitude. Mas com 13 anos, o que ela qualifica hoje como uma leve brisa foi... apenas uma leve brisa. Sem saber tragar, Lolla Malcolm fumou seu primeiro baseado tossindo os pulmões. Hoje ela avalia que essa leve brisa pode ter sido apenas um efeito placebo em suas tentativas desastradas de tragar o fumo. Lolla e Pri, sua colega de classe, estavam atrás de um cigarro convencional, mas a idéia de receber um “não” do dono da padaria parecia muito assustadora. Por isso, sabendo das possibilidades as duas foram até a casa de Shu, outra amiga da escola. Shu era mais velha, repetente. Ensinou coisas um pouco avançadas para as meninas da turma. Ela era a pessoa certa para arranjar um cigarro, apesar de não fumar. Quando chegaram na casa de Shu, seu irmão mais velho estava fechando o baseado. A resposta veio rápido: “Cigarro eu não tenho... mas meu irmão tá descendo pra fumar maconha daqui há pouco, se vocês quiserem ir...”. Lolla se lembra dos bons momentos na piscina de Pri, depois de fumarem. Ela ficou cerca de 20 minutos boiando, olhando pro céu e pensando o quanto a palavra “bóia” soava engraçada.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

11

Lolla Malcolm deu seu primeiro beijo aos 12 anos. Na situação, ela estava com uma amiga, que não era tão amiga assim, jogando ping pong na escola. Bruno, que em raras ocasiões a cumprimentava com um beijo na bochecha (e gerava calafrios ao longo do dia inteiro) se aproximou e chamou Lolla para “conversar”. Lolla sabia que não teria o que falar com Bruno e sabia também que Bruno estava ciente desse fato. Mas mesmo assim ela puxou algum assunto que ele prontamente calou com um beijo áspero, cheio de baba e dentes. Lolla não sabe se esse momento durou 1 segundo ou uma vida. As expectativas para aquele momento eram grandes, uma vez que todas as amigas já haviam passado por isso. Todas as amigas bonitas já tinham passado por isso. Bruno era como o ideal do beijo perfeito para uma garota da sexta série. Ele estava na oitava e isto o embelezava. Lolla tinha bastante contato com o sexo oposto, mas estava um pouco cansada de não ser levada a sério pelos os meninos de sua idade. E “levada a sério” nesse contexto, significa que Lolla gostaria que os meninos a vissem com adoração e admiração, como eles viam suas amigas que já usavam sutiã, tinham cintura fina e certamente já haviam menstruado. Os meninos geralmente apostavam corrida com ela. Ou a distraiam durante as aulas, mas não a admiravam. Pelo menos não da maneira como Lolla desejava. Após o beijo descontinuado de Lolla, Bruno saiu andando pelas mesas de ping pong e Lolla não tem certeza se ele se despediu.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

10

Lolla Malcolm se lembra do primeiro dia em que usou um sutiã. Com 12 anos, a anatomia de Lolla dispensava a necessidade dessa peça de vestuário, mas Lolla já havia reparado que muitas meninas de sua idade já usavam. Ela resolveu experimentar um sutiã que sua avó havia lhe dado no natal anterior e que ela julgava de muito mal gosto. Lolla vestiu o sutiã e foi até o supermercado de sua quadra comprar um exemplar da revista Capricho e um pacote de Ruffles parmesão, edição limitada de 2002, a melhor Ruffles já produzida, na opinião de Lolla. No caminho do mercado, Lolla cruzou com um rapaz mais velho que sussurrou uma palavra em seu ouvido ao passar por ela. Lolla não compreendeu a palavra imediatamente, até parou para raciocinar o que o rapaz havia dito. "Peitinhos". Lolla nunca mais usou aquele sutiã depois daquele momento. Toda vez que Lolla via o velho sutiã cor de rosa com um lacinho que sua avó havia lhe presenteado, ela se recordava da cara indecente daquele garoto. Lolla desejou não ter peitos naquele dia e evitou o sutiã por mais um ano. No ano seguinte, uma colega de classe, com muito cuidado, disse que a blusa de Lolla estava transparente, e ela percebeu que havia chegado a hora de usar sutiã novamente. Por um bom tempo, ela prestou bastante atenção nas pessoas que passavam perto dela naquele caminho até o supermercado. Chegou a ver o garoto tarado de longe, uns anos depois, mas não sentiu mais medo. Ele continuava com a mesma cara indecente, Lolla reparou.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

9

Lolla Malcolm não gosta de lembrar do dia em que puxou as calças de uma amiga no pátio da escola. Lolla certamente não tinha mais idade para esse tipo de atitude, aos 14 anos. O fato é que aquela sua amiga em particular nunca revidava. As duas já se conheciam a longa data e Lolla nunca a entendeu plenamente. A menina era mansa, dócil, tranqüila e muito inteligente. Lolla não a entendia. Certa vez, para chamar atenção, Lolla puxou as calças dessa amiga no meio do pátio da escola. A amiga subiu as calças, ficou vermelha e saiu chateada. Nunca brigou com Lolla, nem mesmo citou a situação. Isso fez Lolla perceber que estava praticando buylling, por isso ela não gosta de citar essa história.